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Argumentação

Page history last edited by selva moraes 16 years, 8 months ago

 

 

 

Começamos este projeto com muitas dúvidas e com algumas questões que considerávamos que tinhamos conhecimento. Criamos uma questão inicial e hoje na tentativa de respondê-la vejo que, mesmo depois de tantas leituras, entrevistas, ainda tenho curiosidade e necessidade de saber um pouco mais.

Ao iniciar neste foco constatamos que o luto é um sentimento natural que estimula a maturação humana e que faz parte de nossa evolução como seres humanos.Durante nossa vida passamos por muitos lutos e muitas vezes nem o identificamos como sendo de tão natural tal a maneira como acontece. Quando me refiro a estes fatos o identifico como lutos naturais. Mas a maioria das pessoas sentem nesta palavra um enfoque tétrico, sinônimo de tristeza profunda, de base para muitas mudanças psicológicas, sentimentos estes que ninguém gostaria de possuir e nem de ter que passar.

Perder pessoas que amamos são momentos infinitamente difíceis, modificam nosso comportamento, nossa maneira de pensar, perdemos muitas vezes o foco e a nossa direção.Quando a perda recai sobre nossos filhos estes sentimentos aumentam muito, tomam uma dimenção imensa. Mas , mesmo não querendo, estas coisas acontecem, e com o tempo temos que aceitar.Pode se preciso ajuda especializada , mas o fato é real.

Quando efetivamente a morte de um ente querido não ocorre , mas contruímos mentalmente esta perda, o problema é muito diferente, torna-se um problema psicológico e passível de ajuda, pois neste luto efetivamente o ser visado não morre, somente na mente da pessoa que assim o sente. Este é nosso foco de estudo, o luto mateno de crianças vivas, crianças que nascem com alguma síndrome e não são aceitas, a realidade assusta ao ponto de ser negado a sua existência pela própria mãe.

Voltando a pergunta inicial "Quando e como acontece a elaboração do luto materno no nascimento de crianças com síndromes?", para  muitos ela inicia no momento do parto, causadas muitas vezes pela falta de preparo dos profissionais da área médica no momento de comunicar o fato aos pais.Eles, na maioria das vezes, não preparam os genitores para receber tal notícia, nem tão pouco deixam os pais terem um primeiro contato com o bebê, coisa que amenizaria consideravelmente a elaboração deste sentimento pois o vínculo afetivo entre mãe e filho já teria sido estabelecido.Porém o luto materno acontece durante a gravidez, Riedmiller afirma haver três momentos de perda para a mulher que  se torna mãe: perda do estágio de filha, perda do status de casal e a perda do estatus de boa mãe.Ele coloca que quando ela anuncia ao marido que está grávida há uma perda da relação na qual haviam somente dois, gerando insegurança, seu corpo irá mudar, ele talvez não se interessará mais da mesma maneira  por ela. Toda mulher é primeiramente filha, e  tem na própria mãe a referência de proteção.Na gravidez ela será a mãe e terá desempenhar este papel.Toda mulher tem naturalmente o desejo de ser uma boa mãe.mas quando o bebê não nasce saudável, instala-se uma série de acusações quanto a sua negligência durante a gravidez, fazendo com que ela se sinta incapaz de gerar filhos perfeitos.

 Analizando as entrevistas feitas pude observar que muitas mães quando souberam das síndromes de seus filhos,em um primeiro momento, levaram um choque, fizeram múltiplos questionamentos , mas em pouco tempo vão aceitando os fatos e procurando se apropriar mais das necessidades que seu filho irá precisar e se preparar para ser a mãe que ele precisa. Mas existem outras que não elaboram tão bem estas situações e precisam de mais tempo para isto, ocasionando a intalação de um sentimento de luto mais profundo, patológico. Nao aceitam o filho que geraram, para elas seu filho imaginário morreu e sua tristeza é imensa, fazendo surgir vários outros sentimentos como:insegurança, depressão, vida sem sentido, sem rumo,  falta de motivação e interesse, muitos questionamentos internos, cobranças, fecha-se internamente para tudo e para todos.

Riedmiller coloca também os lutos que a mulher atravessa no momento do parto de crianças ditas especiais.Ele  identifica como o luto dos sonhos e do imaginário. Os sonhos representam o que ela imaginou , seus ideais, desejos, objetivos. O imaginário se refere ao bebê que todas as mães desejam , saudável, bonito, grande, com peso ideal nascido de 9 meses, coisa que nem sempre acontece, " Sendo assim, o nascimento de um filho, tanto encarna a realização de um ideal quanto reatualiza a falta estrutural, já que sem ela não haveria desejo de ter um filho." (Jaquetti e Mariotto,2004,p.53).

Mulheres que estabelecem este tipo de patologia não interagem com seus filhos, a relação mãe e filho fica prejudicada e muitas vezes nem acontece, ambos sofrem muito as consequências deste fato, A criança precisa ser estimulada  e  sentir-se segura. O relacionamento mãe e filho é fundamental para o desenvolvimento do bebê. Ferraris confirma quando fala:

 

                                      " Que a mãe seja uma figura fundamental na vida de um filho, é uma

                                        convicção tão aceita e consolidada que podemos considerar uma axoma,ou

                                        seja ,um princípio geral evidente,cuja demonstração é totalmente supérfua

                                        Todos  sabemos que, sem uma figura de apego, o recém nascido terá

                                        dificuldades para crescer",( Ferraris, 2005,p.45)   

 

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